eudarcantiga

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Location: Niterói, RJ, Brazil

“gosto de olhar comprido, longo, longe. Gosto de ver o horizonte para além do mar e de olhar desde o topo da montanha, gosto de olhar para além do fundo do céu, da liberdade de sonhar para além da imaginação, para além do já sabido, do conhecido. Gosto de conhecer, mais que de reconhecer. Para além da lenda. Assim sou eu: para além da história, ou “para lá de antes que seja história.”

Saturday, June 19, 2010

Dourar a pílula

Esta expressão me intrigava quando eu era pequena. O que afinal quereria dizer? Pois que de pílulas conhecia umas pequeninas, vermelhas, que minha avó costumava tomar e eu não sabia para que. Só sabia que crianças não deviam sequer se aproximar delas. À medida de crescer, fui descobrindo, par e passo, seu significado. Afinal, vez em quando, também a mim me davam pílulas - se não douradas - cobertas de açúcar para disfarçar o amargor do contido. E aprendi, mordendo a fina e enganosa camada doce, que "dourar a pílula" se traduzia em "enganar o trouxa", "vender gato por lebre" e sinonímias outras mais chulas e contundentes.
Aprendi? Bobagem! Aprendi coisa nenhuma! Os douradores de pílulas não só se multiplicaram como se sofisticaram, penetrando sendas inimagináveis. Para citar um indigesto exemplo, os defensores das matas e dos animais silvestres - não que não os haja sérios e conscientes - reunidos em ONGs de origem duvidosa e secretarias de nome pomposo, gritam contra a internacionalização da Floresta Amazônica, choram pela Mata Atlântica agonizante, mas fecham olhos quando construtoras, mesmo não autorizadas, devastam árvores, seu ecossistema e o próprio terreno que as sustenta.
Ainda que amplamente denunciado aos "órgãos competentes," isso é o que vem acontecendo no n.º 123 da Rua Vereador Duque Estrada, em Santa Rosa, onde uma retro-escavadeira e no mínimo seis caminhões basculantes trabalham das 7 às 17 horas, destruindo e levando embora o que possa vir atrapalhar a construção de ninguém sabe o que. O responsável? Quem sabe? No portão escancarado nenhuma placa o indica.
Sábado passado, um pássaro coloria o encarte de lançamento do condomínio a ser construído na Rua Itaguaí, próximo ao Centrinho: um Sabiá Laranjeira, símbolo do Brasil... pintado de azul. É... já não se douram pílulas como antigamente.

P.S.
Revirando antigos emails, encontrei vários contendo artigos publicados no "O Crreio". A data é 12/04/2001. Olhando, agora, do meu portão ainda vejo tres casas como as tantas que encontrei quando vim morar aqui. O resto do quarteirão não é mais que uma parede de edifícios escondendo o verde da terra e o azul do céu... o resto, um canteiro de obras. Sinto...

Tuesday, June 01, 2010

Caleidoscópio

Pequenos cacos de vidro
que se encontram, e se afastam
e que se encontram, de novo
para formar outros tantos
desenhos e muito mais...
mais simples, mais rebuscados
mais ou menos complicados,
brilhos claros... 
ou esfumados...
... sempre pedaços de vida
esquecidos, 
relembrados,
escondidos, 
revelados,
sempre pedaços com vida
que quando perto, uns dos outros,
uns poucos ou muitos mais,
fazem o céu mais bonito.



Quem já não está, e se foi
levou só o coração
mas deixou uma lembrança
duas, três, uma porção,
e esperam com bonança
encontrar-nos, qualquer dia,
numa outra dimensão,
do outro lado do muro
e agora, em definitivo,
num lindo porto, seguro,
onde encontram lenitivo
num lugar doce e cativo
lá pelas bandas astrais
onde na sua ciranda
dançam modinhas de roda
e inventam, só de moda,
não nos perder... 
... nunca mais.


E continuando a dança
dos caquinhos coloridos
dos infindáveis desenhos
guardarão a esperança,
que nós guardamos também,
de estarmos juntos, de novo,
brincando de fazer vida,
bem brilhante e colorida
onde vai estar todo mundo,
sem que se esqueça ninguém.

Ilnéa R. País de Miranda
em novembro de 2009

Para os amigos Herly e Délio em suas Bodas de Ouro.

Quem sabe acordo?.

... coitado, capenga, sem último verso... e terminei assim, como veio. Certamente não é, nem será o "veneno do escorpião".

Abraço grande
I

Quem sabe acordo?
*
De minhas marcas só tirei recados
Do que podia ser sem ser ferido
Sem ter o pranto preso ao meu ouvido
Sem ter que ouvir o grito dos calados.

Dos meus recados que não tem sentido
Eu faço versos nunca reclamados
Pelos poetas sempre descuidados
Vivendo d’alma sem nem ter sofrido.

Mas se minh’alma escapa a meus cuidados
E sonha em versos o desconhecido
Resguarda o canto que escutei inteiro.

E desavendo-me em não revelados
Guardo comigo o prêmio e o perdido
Voltando ao sonho que sonhei primeiro.