eudarcantiga

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Location: Niterói, RJ, Brazil

“gosto de olhar comprido, longo, longe. Gosto de ver o horizonte para além do mar e de olhar desde o topo da montanha, gosto de olhar para além do fundo do céu, da liberdade de sonhar para além da imaginação, para além do já sabido, do conhecido. Gosto de conhecer, mais que de reconhecer. Para além da lenda. Assim sou eu: para além da história, ou “para lá de antes que seja história.”

Saturday, June 25, 2005

Quatrocentos Reis de Lembranças

Eu era mesmo muito pequena, mas lembro a moeda de quatrocentos réis. Tinha um desenho de locomotiva e me comprava balas no pequeno botequim da esquina da travessa, lá bem onde a travessa acabava. Comprava confeitos de amêndoas glassadas de açúcar - esses mesmo que hoje custam muito caro, pois que são importados. E também eram importados quando eu era pequena. Como importada era a louça em que eu comia, e meu pequeno copo articulado de levar na bolsa de crochê. E tudo isso era importado porque havia pouca indústria por aqui. Meu avô e meus tios trabalhavam numa dessas poucas: eram metalúrgicos, eu acho, operários.
E havia pouca indústria e o comércio era pequeno lá onde eu era pequena enquanto morava...
... e a vida... vivia, e era vivida por todos com pouco luxo, muito limite, gasto pouco. O que era muito? Família, sentido de família e mesa farta. Sem desperdício.
"Quem come e guarda, duas vezes põe a mesa."
"Quem dá o que tem, a pedir vem."
Ditos de meus avós. Controlados.
E por isso eu comia em porcelana inglesa... e por isso eu tinha a moeda de locomotiva vez em quando para comprar meus confeitos de amêndoa importados...
... e tinha meu copo articulado de levar na bolsa de crochê.

Ilnea

Cópia de texto encontrado em 01/04/2oo2,escrito no final do século XX

Transparências, Reflexos e Brahms

Transparências, Reflexos e Brahms
Ilnéa (15/08/2004)
Lá estava eu no salão de D. Eunice Linton, no primeiro andar do teatro Municipal de Niterói. Mas não era mais menina como tinha sido naquele tempo. Nem o salão era exatamente o mesmo. Tinha um enorme espelho na parede do fundo que refletia as janelas abertas e a mim.
O piano toca Brahms e eu...eu tento dançar. Às vezes consigo, nas pontas dos pés, como naquele tempo. Às vezes paro. Apenas aprecio minha imagem refletida no espelho. E me parece que não sou eu que danço, mas apenas minha imagem refletida. Eu, eu mesma, só aprecio. Quem será realidade? Eu que vejo ou a imagem que não seria refletida, seria outra eu que seria livre para dançar, ou para voar, planar como noutro momento, por sobre o lago que também me refletia e que também era espelho.
E eu olhava a mim mesma quase transparente como uma libélula. Dançava aqui e ali no salão do espelho e por sobre o lago. Imagens consecutivas que se revezavam em minha mente enquanto ouvia Brahms.
Havia lá uma presença além de mim. Sinto que estava lá para me apoiar, para não me deixar cair da pirueta ou de um movimento mais ousado. Falar... não posso dizer que falou. Mas as palavras que me chegaram foram "Contate a menina que mora em você e dance. Dance sempre que tiver vontade- ou necessidade. Dance a vida e ela será mais leve."