eudarcantiga

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“gosto de olhar comprido, longo, longe. Gosto de ver o horizonte para além do mar e de olhar desde o topo da montanha, gosto de olhar para além do fundo do céu, da liberdade de sonhar para além da imaginação, para além do já sabido, do conhecido. Gosto de conhecer, mais que de reconhecer. Para além da lenda. Assim sou eu: para além da história, ou “para lá de antes que seja história.”

Thursday, June 29, 2006

Parabéns p'ra você, Professor Lauro

Ontem, 28 de junho de 2006, foi um dia especial. Ontem, o Professor Lauro Pio de Miranda teria completado 75 anos. Sei que ele gostaria de estar aqui e comemorar conosco. E talvez tenha comemorado, de onde quer que esteja. Talvez, como eu, tenha lembrado de uma comemoração especial, nos recém-natos anos sessenta. Eram seis da manhã, fazia muito frio, e o sol ainda não tinha mostrado a cara. Os filhos dormiam, nós tomávamos café na cozinha da casa 06. Aos poucos, um certo rumor começou a quebrar o silêncio. A princípio inteligível, um som de vozes começou a tomar sentido. Parecia... era! Saímos os dois pela porta da cozinha para ver e ouvir mais de perto. Eram “os meninos do científico” subindo a estradinha ao encontro de seu mestre-amigo-aniversariante cantando, em coro, “Parabéns p’ra você, nesta data querida...”

Lauro foi-lhes ao encontro. Foi abraçado por todos e abraçou todos eles. Misturou-se com eles, porque era um deles. Emocionante sentir, lindo ver, glorioso lembrar.
Lauro nunca esqueceu isso, e tenho certeza que, se lhe for possível, esta é uma comemoração que terá lembrado ontem.

29/06/06

Sunday, June 04, 2006

Qualquer semelhanca...

... não será, por certo, mera coincidência.

O Flautista de "Vila Real"

Houve um tempo em que a vila era até limpinha. Calma, ruas varridas, muitas árvores,...enfim, tudo o que faz um lugar bom de morar. Mas um dia...

...um dia apareceu um rato! E as pessoas nem ligaram. Afinal, que mal pode fazer UM rato? Tempo depois, mais outro (dizem que até maior)! mas...ninguém ligou.

"Ah, dois ratinhos? Não foram eles que ajudaram a Cinderela?

Sorrateiramente, os ratos foram proliferando, e aumentando em gênero, número e grau.

E para espanto e susto dos moradores, já havia ratos por todos os lugares: nas casas, nas escolas, nas feiras... nas lojas de comércio! Na câmara, e pasmem! Até na Prefeitura! Toda a comunidade estava apavorada. Era uma rataria de fazer gosto!

Assustada com os prejuízos, a Câmara de Comércio tentou de tudo. Chamou notórios caçadores de ratos, que usaram mil e um artifícios. E nada! A rataria só fazia aumentar e ficar cada vez mais feroz e desavergonhada. Ninguém sabia mais o que fazer.

E a coisa fugiu do controle. E um dia, quando Prefeito viu, foi sentar em sua cadeira e caiu escarrapachado no chão! Tinham roído um pé dela , interinho! O Prefeito enlouqueceu de raiva. Mandou que se lesse edital em praça pública, dizendo "Mil florins para aquele que nos livrar desta praga!" e a comunidade em coro "Mil só não, senhor prefeito: dez mil!"

Para surpresa geral, alguém no meio do povo respondeu: "Eu, senhores! Eu posso acabar com os ratos, todos sem deixar um sequer!"

Fez-se um silêncio quase sepulcral, e todo se voltaram na direção da voz. Era um desconhecido de roupas coloridas.

"Pois então, o que está esperando? Leve os ratos homem!"

Tirando uma flautinha do bolso, o homem começou a tocar uma musiquinha esquisita. Para espanto de todos, os ratos, um a um começaram a sair das tocas e se a reunir em volta do sujeito. E ele começou a descer a rua principal, sempre tocando a flautinha e os ratos atrás dele. Saiu pelo portão e continuou seguindo até a beira do Grande Lago da Vila Real. Continuou caminhando, entrando na água, e os ratos atrás. Como eram ratos de terra, e não sabiam nadar, morreram afogados.

Livre dos ratos a Vila Real comemorava. E o homem voltou para receber a recompensa. E Prefeito e seguidores, esquecidos do sufoco não quiseram pagar, "Tanto dinheiro assim só para tocar uma musiquinha? Suma-se daqui e não volte nunca mais."

Ah, o homem ficou muito zangado. Onde já se viu? Como é que se contrata um serviço e não se paga?"

Só que bobo ele não era. Como já ouvira umas certas coisas a respeito daquela gente, mui espertamente tinha guardado uns ratinhos, só por precaução. E noite alta, depois da festa acabada, e todo mundo dormindo de pança cheia, voltou sorrateiramente á Prefeitura, e soltou os bichinhos lá.

Como no princípio da história, os primeiros ratinhos ninguém notou. E se passou um tempinho. E os ratinhos tiveram filhinhos. Até que um dia... ainda era bem cedo, mas uma mordida no pé... acordou o Prefeito. Pulou da cama e foi calçar as chinelas. Gritou de novo; outra mordida! Sua mulher, que dormia a seu lado, deu um berro: tinha um camundongo nas calçolas!

Foi um Deus nos acuda! E a gritaria se espalhou pela casa inteira, "Socorro!" gritava a cozinheira, "Tem ratos na cozinha!" "Tem um nadando na tina de leite!" gritou a copeira. Neste meio tempo, o Prefeito foi ao banheiro - vocês podem imaginar onde o rato mordeu? É o Prefeito saiu correndo com uma ratazana enorme pendurada no traseiro.

E foi um furdunço. "Chame o flautista!" comandou o Prefeito ao Secretário, que saiu correndo porta afora.

Não demorou nada e viu o flautista bem serelepe sentado no banco da praça com sua flautinha no colo. Quando viu o Secretário, foi logo dizendo, "Já sei, querem que eu toque minha flautinha outra vez, não é? Pois tudo bem, eu toco."

"Pois faça isso já, homem."

"Ah, o senhor me desculpe" e estendendo a mão "Primeiro, o meu dinheiro."

E assim foi feito. Dinheiro no bolso, flauta na boca, lá se foi o flautista seguido pelos ratos.

"Agora sim!" gritaram prefeito e secretário, "Livres dos ratos para sempre!"

E o flautista, que já ia quase saindo da vila, disse de si para si mesmo, com uma risadinha esquisita, "Hi, hi, hi... nunca se sabe..."

(tradução livre de uma história muito antiga, mas com grande amplitude de adaptabilidade. Pois..)