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“gosto de olhar comprido, longo, longe. Gosto de ver o horizonte para além do mar e de olhar desde o topo da montanha, gosto de olhar para além do fundo do céu, da liberdade de sonhar para além da imaginação, para além do já sabido, do conhecido. Gosto de conhecer, mais que de reconhecer. Para além da lenda. Assim sou eu: para além da história, ou “para lá de antes que seja história.”

Sunday, January 07, 2007

O Primeiro Presente de Natal

Vocês se lembram que, depois do menino Jesus nascer, os anjos apareceram no céu cantando os primeiros cânticos de Natal. Um grupo de pastores pastoreava suas ovelhas no sopé da montanha. Os anjos cantavam para eles, pessoas simples do campo. Posso assegurar que eles ficaram surpresos e, talvez, um pouquinho assustados. Mas os anjos disseram "Não tenham medo, está tudo bem." E também contaram sobre Jesus, a criança crística, que nascera num estábulo numa pequena cidade chamada Belém. O estábulo ficava numa caverna. Alguns dizem que era uma construção, mas a mim disseram que era uma caverna.

Bom, pelo menos a parte de trás do estábulo era numa caverna. A parte da frente era feita de lama, palha e madeira. Os anjos disseram aos pastores que, se eles quisessem visitar Jesus Cristinho, eles poderiam encontrá-lo debaixo da Estrela que eles tinham pendurado no céu para que as pessoas pudessem ver onde ficavam Belém e o estábulo. Na manhã seguinte, o chefe dos pastores chamou seu filho "Seus tios e tias estão indo para Belém para ver o bebê que os anjos anunciaram ontem à noite, você quer ir também?

Se ele queria ir? Ela já tinha nove anos e nunca tinha ido à cidade. Claro que ele queria ir! Não só ir à cidade pela primeira vez, mas ver também o Filho de Deus? Ele estava muito excitado!

Vou falar um pouco do pastorzinho para vocês. Ao fazer nove anos, começou a ser considerado com idade suficiente para ajudar seu pai e seus tios nos cuidados com as ovelhas. Deram-lhe um pequeno rebanho, e um cajado com uma parte curva na extremidade superior. Esta ponta curva servia para pegar ovelhinhas fujonas pelo pescoço, mais ou menos como fazem os boiadeiros laçando bois. Algumas vezes o cajado fazia ainda melhor: servia para 'tacar' na cabeça de algum lobo velho, especialmente quando queria uma ovelha como jantar.

Agora vou falar um pouco sobre o cajado dos pastores. Vocês deviam ver o cajado de Silvestre! O pai de Frederico, Silvestre, tinha um cajado tão grande, tão pesado, que Frederico quase nem conseguia levantá-lo do chão. O cajado de Silvestre era o cajado do chefe dos pastores, e era coberto de todo tipo de entalhes. Este cajado estava em sua família há muito, muito tempo mesmo.

E há um pouco mais que dizer sobre Frederico. Quando ele era ainda um bebezinho, sua avó tinha pegado um bocado de lã de ovelha, e lhe tinha feito uma ovelhinha como travesseiro. Até onde Frederico podia lembrar, ele sempre dormira com a ovelhinha-travesseiro, e sempre tomara suas refeições agarrado a ela (...e levava a pequenina onde quer que fosse. Ele amava sua ovelhinha de lã. Ele era meio como o Linus, a amigo do Charlie Brown nas tiras Peanuts, arrastando seu cobertor por toda a parte. Eloe realmente amava a sua ovelha de lã. Ele a chamava de "Lauren Leigh.")

Aí morava o problema. Agora que tinha nove anos, as crianças mais velhas tinham começado a implicar com ele por carregar o brinquedo o tempo inteiro para todo o lado. Ultimamente, ele até o escondia debaixo das roupas. Frederico decidira que, se tinha idade suficiente para ir até a cidade e também para ver o Menino Jesus, tinha idade suficiente para deixar sua ovelhinha de lã em casa. Ele a abraçou e escondeu-a debaixo da roupa de cama. Frederico empertigou-se, estufou o peito, vestiu sua roupa nova de pastor e saiu pela porta acompanhando seu pai e sua família em direção a Belém. Eles ainda não tinham andado duzentos metros quando ele parou e disse, "Papai, eu esqueci uma coisa em casa de que preciso muito. Vou correndo buscar, e pego vocês, logo, logo."

Vocês bem podem imaginar o que ele voltou para buscar. Pegou a ovelha bebê e escondeu-a debaixo da túnica, e voltou correndo para o pai, a mãe e amigos. Parou de pular e continuou a seguir em silêncio com os adultos.

Quando entraram em Belém, Frederico jamais tinha visto tanta gente junta. O estábulo estava cheio de bons augúrios, pessoas carregadas de presentes e, do lado de fora, uma fila de gente esperando para entrar. Frederico sentia o coração partindo. Não calculava como eles poderiam entrar para ver o Menino Jesus. Ele havia esquecido que seu pai era o chefe dos pastores. Quando os companheiros viram Silvestre, logo o chamaram. "Entre, Silvestre, e traga seu menino para dentro do estábulo." Quando eles entraram no estábulo, Frederico subiu num amarrado de feno, alto, de onde ele podia ver por vima de todas as cabeças.

E lá estava o Menino Jesus, adormecido. Frederico nem podia acreditar no que via. Lá estava o Menino Jesus, dormindo onde os cavalos costumavam comer, deitado sobre um bocado de feno fresco, que lhe servia de colchão. Uau! Eu me lembro da mamãe dizendo que quando eu era um bebê, também dormia numa caixa de madeira quando estávamos de visita em casa de alguém. Que dia excitante! Aqui estou na cidade, pela primeira vez, e vendo o Filho de Deus! Uau!

Então Frederico notou que todo o estábulo, cheio de gente, aquietara-se. Frederico voltou-se na direção da porta. As pessoas se afastavam, abrindo caminho para três homens. Frederico olhou as suas roupas e lembrou das histórias que sua mãe contava sobre Reis e de como eles se vestiam. Ele nunca pensara chegar a ver um Rei. Estes três homens usavam roupas diferentes com certeza. Que dia! Primeira vez na cidade. Primeira vez vendo tanta gente. Uma chance de ver o Menino Jesus e agora três Reis de uma vez! Que aventura!

Frederico olhava enquanto os Reis chegavam até Jesus. O primeiro Rei, cuja voz era profunda e tinha tom de comando disse "Trago um presente em ouro para a criança Crística, o símbolo do Rei."

Frederico pensou, "Espere ai Senhor Rei, este é um presente muito tolo para se dar a um bebê tão pequenino. O que é que um bebê pode fazer com dinheiro?"

O segundo Rei parou e com a mesma voz de Rei disse, "Eu trago o presente da Mirra, símbolo do curador, para a criança Crística."

Frederico pensou. "Oh, oh, este Rei tampouco é inteligente. Mamãe às vezes cozinha com mirra. O que será que esse Rei pensa que um bebê vai fazer com uma erva amarga como Mirra?"

Então o terceiro Rei disse, "Eu trago o presente do Incenso Sagrado, símbolo do Pastor, para a criança Crística!"
"Incenso Sagrado?," pensou Frederico, "esse negócio tem um cheiro horrível! Reis podem vestir-se de modo diferente mas seguramente não tem bom senso. As únicas vezes que cheirei este tipo de incenso foi em funerais, e ele dá esse negócio para o menininho?

Frederico sacudiu a cabeça com tristeza pensando quão idiotas os Reis podiam ser, enquanto olhava os outros presentes. Nada para um bebê. Então viu Silvestre, seu próprio pai, levantar-se, andar até onde o bebê Jesus estava adormecido, e colocar no chão, a seu lado aquele enorme cajado de pastor que nem ele, que já tinha nove anos, aguentava sequer suspender um pouquinho que fosse, como um presente para o Menino Jesus. Foi então que Frederico percebeu que, algumas vezes, os adultos fazem coisas muito tolas. Eles francamente parecem deixar de lado a inteligência com que nasceram. Vocês já notaram isso alguma vez?

Enquanto pensava sobre os presentes inadequados que tinham dado ao Menino Jesus, ele subitamente lembrou que, bem debaixo de sua túnica, ele tinha o presente certo para um recém-nascido! Não, não, uh-uh, não, de maneira nenhuma ele abriria mão de sua amiguinha! Frederico até olhou para fora do estábulo, para um bando de pássaros chilreando numa árvore. Isso não faria nenhuma diferença. Tudo que Frederico podia pensar, era como o Menino Jesus tinha nascido naquele velho estábulo, meio cavado no flanco da colina, sujo e cheirando a esterco, recebendo presentes que não poderia usar.

Frederico sabia que se o Menino Jesus fosse receber um presente que um bebê podesse usar, ele teria que ser aquele a proporcionar isto. Frederico desceu da pilha de feno. Foi se espremendo entre as pessoas grandonas, até que chegou perto da manjedoura. Frederico pensou que nem para alimentar cavalos a manjedoura servia muito. Sem colchão, só palha para o Menino Jesus, o filho dos Céus, a criança Crística, dormindo neste estábulo fedorento. Isso era horrível!

Quando conseguiu chegar até a manjedoura ele olhou para baixo, para o menino que nela dormia tranquilo. Ele procurou debaixo da túnica e puxou sua amiga ovelhinha, aquela que sua Vovó Genoveva tinha feito para ele com lã. Ele sussurrou em seus ouvidos o quanto gostava dela e quanto o Menino Jesus iria gostar dela também, e quanto ele iria sentir sua falta, mas quanto ela teria que tomar conta desse seu novo bebê: tanto quanto sempre cuidara de Frederico, quando Frederico era um bebê.

Frederico deu um grande abraço na sua amiguinha. E quando começou a colocá-la na manjedoura, o Menino Jesus acordou, e viu a pequena ovelha de lã acima dele, começou a gorgolejar, levantou suas pequenas mãos em sua direção, agarrou-a com firmeza e apertou-a de encontro ao peito. Então o Menino Jesus , abraçado à sua ovelhinha de lã de carneiro, fechou os olhos, e voltou a dormir com um sorriso no rosto.

O Primeiro Presente de Natal
Coletado e adaptado por Chuck Larkin
Traduzido por Ilnéa País de Miranda

Nota da tradutora - Chuck Larkin era um contador, um pesquisador e um adaptador gentil e leve das histórias do mundo. Por um par de anos trocamos palavras e sentimentos via storytellers.com. Nunca nos vimos, mas por certo nos encontramos.
Sou, e serei sempre, grata por isso.

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