Eu e Maria

Eu e Maria

Sentada em minha cadeira
Sozinha em minha aflição
Pensava eu nos meus filhos
No que eu queria p'ra eles:
Uma vida bem tranquila
Cheia de grandes momentos
Plena de felicidade...

...aquilo tudo que as mães
Pensando serem, coitadas,
Donas dos cordéis de um mundo
Que julgam ser só de títeres
Esquecendo, tolamente,
Que filhos também são gente
E portanto, certamente,
Sujeitos à própria sorte.

Pensava em minha impotência
E chorava ser humana
Lamentava não ser deusa
Lamentava não ser santa
P'ra poder de alguma forma
Mudar o que então pensava
Estar errado com eles.

Foi então que à minha mente
Chegou-se você, Maria
Você Maria que é Santa -
Mas que antes de Santa é mãe -
Quando olhou por vez primeira
Lá no seu berço de palha
No estábulo em Belém
O seu menino, Jesus.

Será que você, Maria
Desejava-lhe o destino
Que lhe estava reservado,
Passar a vida pregando,
Como um louco, esfarrapado,
Junto com outros loucos
Despegados das famílias
Aquelas coisas que o mundo
Teimava em não entender?

Será que você, Maria,
Em sua Santa agonia
Queria ver seu menino
Quase nu, dilacerado,
Pregado naquela cruz?


Quem sou eu então, Maria
Que não sou santa nem nada
Para intervir de tal modo
No destino dos meus filhos?
Sou mesmo apenas humana
Nada mais que apenas gente
Não mais que mãe e mulher
Uma pessoa impotente.

Em meu coração, Maria
Tenho é que ter presente
Que a vida de meus filhos
E' deles e não é minha
E ser serão o que forem,
Aquilo que ser tiverem...
...como seu Filho, Maria.

Ilnéa País de Miranda
Brasília, 1982